quarta-feira, 25 de maio de 2011

O poder do erro

Publicado em 24/05/2011 | contato@cristovaotezza.com.br


"O que essa cegueira coletiva mostra, antes de tudo, é o fato de que a linguística – a primeira ciência humana moderna, que se constituiu no final do século 18 com o objetivo de compreender a evolução das línguas – não entrou no senso comum. As pessoas, letradas ou não, sabem mais sobre Astronomia do que sobre o funcionamento das línguas, mas imaginam o contrário. Eis uma cartilha básica, nos limites da crônica: toda língua, em qualquer parte do mundo e em qualquer ponto da história, é um conjunto de variedades; uma dessas variedades, em algum momento e em algumas sociedades, ganhou o estatuto da escrita, que se torna padrão, é defendida pelo Estado e é o veículo de todas informações culturais de prestígio; há diferenças substanciais entre as formas da oralidade e as formas da escrita (são gramáticas diferentes, com diferentes graus de distinção); a passagem da oralidade para a escrita é um processo complexo que nos faz a todos “bilíngues” na própria língua. Pedagogicamente, dar ao aluno a consciência das diferenças linguísticas e de suas diferentes funções sociais é um passo fundamental para o enriquecimento da sua formação linguística.
É função da escola promover o domínio da forma padrão da escrita, estimular a leitura e o acesso ao mundo letrado, e tanto melhor será essa competência quanto mais o aluno desenvolver a percepção das diferenças gramaticais da oralidade e da vida real da língua. Ora, todo livro didático de português minimamente atualizado reserva um capítulo ao tópico da variedade linguística e ao papel da língua padrão dentro do universo das linguagens cotidianas. Num país de profundos desníveis sociais como o Brasil, o reconhecimento da diferença linguística é o passo primeiro para o pleno acesso à escrita e sua função social. Será isso tão difícil de entender?"

Cristovão Tezza

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3 comentários:

Schayane disse...

Muito bom esse texto, e é isso mesmo. Será que é tão difícil de entender???
Como pode eu ainda ter que escutar dentro da UFPR setor litoral, que discutir sobre o preconceito linguístico é um absurdo.
Absurdo é existirem pessoas que ainda se deixem levar por pensamentos que cristalizam e desvalorizam a nossa língua portuguesa.

Emanuelle Kassab disse...

Infelizmente Schayane muito pouco ainda se discute a respeito desse tema e as pequenas discussões que ainda existem giram em tono do senso comum, sem aprofundamentos teóricos.

Anônimo disse...

tudo o que é novo tende a nos assustar,e quando surge um assunto que visa incluir pessoas em um convívio social,se esbarra no preconceito lingüístico. não se escreve como se fala.

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