terça-feira, 7 de setembro de 2010

Reforma ortográfica: (des)acordo internacional

Por Emanuelle Kassab¹

       O acordo ortográfico que foi assinado em 1990 é um tratado internacional, que tem por objetivo unificar a ortografia de todos os países lusófonos. Espalhada entre mais de 230 milhões de pessoas em oito países, segundo a ONU (organização das nações unidas), a língua portuguesa está entre as cinco mais faladas no mundo, embora muitos desconheçam este fato. O fortalecimento e a expansão do mercado editorial também foi um dos objetivos, além do reforço da influência da língua no mundo globalizado. Assinado por representantes oficiais de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste, porém apenas o Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificaram e oficializaram esta lei. Os demais países, e principalmente Portugal, encontram-se em fase de discussão.
        No Brasil, a oficialização ocorreu apenas em 2008, entrando em vigor no dia 1º de janeiro de 2009, quando se iniciaram as mudanças nos livros didáticos. O prazo final para que todas as publicações estejam dentro das normas da nova reforma foi estendido até 2012.
        Dentre os países que ainda não implantaram o acordo, Portugal tem se mostrado mais resistente em relação as mudanças. Para muitos portugueses a reforma é vista como um "abrasileiramento" da língua e que ela estaria perdendo suas origens, assim como diz o professor e linguista Luiz Carlos Cagliari: " De fato, esta reforma, ao contrário da feita na década de 1910, representa um gesto brasileiro  contra a tradição da língua. Para uma pessoa culta, a escrita traz as marcas da pátria, da história, e isso fica prejudicado por leis que pretendem que todos sejam iguais."(Cagliari, agosto 2007). Porém é muito importante citar que com a unificação da ortografia existirá uma maior valorização e fortalecimento da identidade da língua no cenário mundial.
         As mudanças são poucas em relação ao número de palavras que a língua portuguesa tem, porém são significativas e importantes. Basicamente o que nos atinge mais fortemente no dia a dia é o uso dos acentos e do hífen. Podemos citar também o fim do trema, inclusão das letras k, w e y no alfabeto e ainda a exclusão das letras mudas. Aí é que entra a polêmica maior com Portugal, pois para muitos a pronúncia de certas palavras será alterada por causa da grafia. Nesse sentido não se pode deixar de ressaltar que esse acordo visa apenas a unificação da modalidade escrita da língua e não da falada. Muitas divergências poderiam se evitadas se a ortografia fosse compreendida em sua totalidade, como forma de padronização da forma gráfica das palavras, visando universalização da escrita para todos os que falam a língua.
        Entre muitos que se pronunciam a respeito da reforma, pode-se citar o professor Cristóvão Tezza, da Universidade Federal do Paraná, que diz: "Entendo a unificação ortográfica mais como um gesto político do que como uma reforma técnica. E, nesse sentido, é um acordo importante - mantém politicamente os laços entre os países lusófonos. Com certeza haverá vantagens para todos. Quanto ao aspecto técnico, sinceramente penso que mexeu com alguns detalhes irrelevantes que não vão causar nenhum problema aos usuários da língua escrita." (Tezza, novembro de 2008).


Referências:
Luiz Carlos Cagliari, professor universitário, tem experiência na área de Linguística, com especialidade em Fonética e Fonologia. Suas áreas de atuação no momento são: a alfabetização e o letramento; a ortografia e os sistemas de escrita; a fonética descritiva e a fonética acústica, com interesse especial nos fenômenos prosódicos.


Cristóvão Tezza, doutor em Literatura Brasileira,  professor de Linguística na Universidade Federal do Paraná.



1. Emanuelle Kassab Zanon, graduanda do 2º ano do curso de Linguagem e Comunicação da Universidade Federal do Paraná setor Litoral.


1 comentários:

rafael walter disse...

Gosto muito da Literatura do Tezza, um dos melhores em materia de qualdade no nosso estado.

Pena que pediu as contas na UFPR. Sinal que ainda se pode viver de livros neste país, mas o itinerário é árduo.

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