quarta-feira, 2 de março de 2011

Despedida do TREMA

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou 
o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu 
estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, 
nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de 
quatrocentos e cinqüenta anos.
 
 
 
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma 
ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso 
pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma
delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!
 
 
 
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor 
apoio... A letra U se disse aliviada porque vou 
finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disse 
que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto 
ele fica em pé.
 
 
 
Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele 
C que fica se passando por S e nunca tem coragem de 
iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O 
e o anoréxico do I.
 
 
 
Desesperado, tentei chamar o ponto final pra 
trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, 
mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. 
Será que se deixar um topete moicano posso me passar por 
aspas? A verdade é que estou fora de moda. Quem está na 
moda são os estrangeiros, é o K, o W "Kkk" pra cá, 
"www" pra lá.
 
 
 
Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou 
celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria
se chamar TÜITER.
 
 
 
Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: 
haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou 
"tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua 
portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, 
lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades.
E não vão agüentar.
 
 
 
Nos vemos nos livros antigos. Saio da língua para entrar 
na história.
 
 
 
Adeus,
 
Trema

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