sábado, 19 de novembro de 2011

Linguagem, sua construção e a análise do discurso


Emanuelle Kassab Zanon
LinCom 2009

            Antes de entender o que é análise do discurso, é preciso compreender que a linguagem não é mero código que se aprende e aplica, de modo mecânico e/ou automático. Não pode, portanto, ser considerada segundo uma visão mecanicista, que leva a uma produção discursiva acrítica e/ou limitada em suas possibilidades. A boa prática discursiva, ao contrário, implica compreender que a linguagem não pode ser estudada independentemente de seu contexto sócio-histórico, isto é porque traz em si os valores e a história social de diferentes grupos.
            Mas afinal o que é linguagem? É o uso da língua como forma de expressão e comunicação entre as pessoas. Agora, a linguagem não é somente um conjunto de palavras faladas ou escritas, mas também de gestos e imagens. Afinal, não nos comunicamos apenas pela fala ou escrita.
                Precisa-se também compreender o processo da aquisição da leitura e escrita. Sabendo que a criança ao chegar à sala de aula alfabetizadora, já tenha visto em jornais, revistas, outdoors, televisão as diferentes formas utilizadas para representar o que pensamos ou querermos dizer na forma escrita, para que outras pessoas leiam. As crianças vivem em contato com vários tipos de linguagens: os logotipos, as placas de trânsito, rótulos e cartazes, além de textos de revistas e jornais, televisão e etc.
            Segundo a fonoaudióloga, psicomotricista e especialista em linguagem Mariângela Stampa, "existe uma consciência fonológica, que é uma habilidade metalinguística, que se refere à representação consciente das propriedades fonológicas e das propriedades constituintes da fala". A consciência de que a língua falada pode ser segmentada em unidades distintas, ou seja, a frase pode ser segmentada em palavras; as palavras, em sílabas e as sílabas, em fonemas. Consciência de que essas mesmas unidades repetem-se em diferentes palavras faladas. Fazendo assim a conversão de letra em som (leitura) e a conversão de som em letra(escrita). O desempenho das crianças na fase pré escolar em determinadas tarefas de consciência fonológica é um sinal de seu sucesso ou fracasso na aquisição e desenvolvimento da lecto-escrita (habilidade adquirida de poder ler e escrever). Segundo Stampa, crianças com dificuldades em consciência fonológica geralmente apresentam atraso na aquisição da leitura / escrita. Procedimentos para desenvolver a consciência fonológica podem ajudar as crianças com dificuldades na escrita a superá-los. Para esse processo, é muito importante compreender os processos de aquisição morfológica, sintática e semântica.
            A aquisição morfológica
            Morfologia é a parte da gramática que estuda a estrutura, a flexão e a classificação das palavras.  Um morfema é a menor unidade de uma língua que possui sentido pleno. Sendo assim, aquisição morfológica pode ser vista como as diferentes formas que podem tornar uma unidade significativa. Apartir dos dois ou três anos, a criança faz alterações por analogias, ou seja, ela desenvolve uma capacidade de generalizar as falas e utilizá-las por analogias.
            Aquisição sintática
            "A parte da gramática que estuda a palavra em relação às outras, que com ela se unem para exprimir um pensamento." (Stampa, 2009). Perto dos 20 meses as crianças já começam juntar duas unidades silábicas. É muito importante nesse período que algum familiar faça o papel de interprete e ajuda na construção dessa fala. Os autores não ousam definir com precisão quando a criança começa produzir regularmente a sua comunicação linguística, sabe-se que existe uma evolução de enunciados de mais de duas palavras, e isso não é fixado a uma referência cronológica. O que se pode afirmar é que essa evolução depende da contextualização biológica, familiar, educacional e cultural.
            Aquisição semântica
            Semântica é o estudo do sentido das palavras de uma língua. A explicação de Clark (1973 in STILLINGS, 1987) para a aquisição semântica envolve a hipótese de que as crianças aprendem o significado de uma palavra através da união de várias características semânticas que coletivamente constituem o conceito expresso pelo termo.
            Tendo entendido todas essas questões, podemos focar na análise de discurso. A palavra discurso tem diferentes significados, no sentido comum da palavra, a palavra discurso tem apenas sentido de fala, expressão oral, muitas vezes de forma pejorativa, vazia, facilmente relacionado a políticos. Pode-se então definir discurso como "toda atividade comunicativa entre interlocutores, atividade produtora de sentidos ocorrida entre falantes." (Fernandes, 2008). Os participantes desses discursos estão inseridos num determinado espaço geográfico, num tempo histórico, pertencentes a uma comunidade, a um grupo, que por isso carregam crenças, valores sociais e culturais, por fim, ideologias do grupo a qual estão inseridos. Todas essas influências, que o indivíduo recebe aparece também no seu discurso. Fica muito clara esse definição, quando analisamos a mesma situação relatadas em discursos diferentes. Um exemplo é a utilização dos substantivos invasão e ocupação em jornais e revistas que circulam em nosso cotidiano. Tais discursos se opõem e se contestas, para o movimento sem terra, o que ocorrem são ocupações de áreas não utilizadas e para seus contestadores, esse feito é considerado como invasão. Dependendo da ideologia do grupo é a forma com que o discurso é construído.
            Para iniciar uma reflexão sobre o discurso, é necessário compreender conceitos como:
·         Sentido: trata-se do efeito de sentido pretendido com o discurso;
·      Enunciação: posição ideológica no ato de enunciar, lugar sócio-histórico-ideológico de onde os sujeitos dizem;
·         ideologia: concepção de mundo do sujeito inscrito em determinado grupo social, em uma circunstância histórica;
·         condições de produções: aspectos históricos, sociais e ideológicos que envolvem o discurso;
·         sujeito discursivo: constituído na inter-relação, não é o centro do seu dizer, em sua voz, um conjunto de outras vozes, se manifestam.
            O sujeito é constituído por uma fala polifônica, de diferentes vozes sociais, marcado por conflitos e heterogeneidade (forma da presença dessas diversas vozes). Sua identidade é plural, fragmentada, marcada por sua formação discursiva e sua formação ideológica.
            Num campo discursivo, "posicionamento", define mais precisamente uma identidade enunciativa forte ("o discurso do partido comunista de tal período", por exemplo), um lugar de produção discursiva bem específico. Formação discursiva é aquilo que, em uma formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada em uma conjuntura dada, diz o que deve ser dito. Uma FD não é um espaço estrutural fechado, pois é constitutivamente "invadida" por elementos que vêm de outro lugar (isto é, de outras FD) que se repetem nela, fornecendo-lhe suas evidências discursivas fundamentais, é nesse aporte que se instaura a noção de interdiscurso; é ele que possibilita ao sujeito concretizar o seu discurso; marca a exterioridade, o lugar anterior determinante do próprio discurso.
            A Semiótica Discursiva se interessa não mais pelo signo de Saussure (significante + significado), mas pela significação. Preocupada com “a arquitetura textual que produz o sentido” (FIORIN, 2008), a Semiótica não tem como objeto de estudo palavras soltas ou mesmo frases, já que “se preocupa com a organização global do texto; examina as relações entre a enunciação e o discurso enunciado e entre o discurso enunciado e os fatores sócio-históricos que o constroem” (BARROS, 2003).
            Para Greimas, este estudo da significação deve atender condições específicas:
1. ser sintagmático: não há interesse nas unidades lexicais, mas sim nos procedimentos linguísticos que produzem os efeitos de sentido e possibilitam a
interpretação do discurso;
2. ser gerativo: há um percurso que vai do mais simples ao mais complexo, do mais abstrato ao mais concreto, para se obter significação;
3. ser geral: deve haver uma unicidade do sentido que pode se expressar por
diferentes planos da expressão.
            Segundo Fiorin, "a Semiótica previu três níveis de concretização no percurso gerativo do sentido: o nível fundamental, o narrativo e o discursivo. Cada um deles é invariante em relação ao seguinte, que é variável. Todos eles têm uma sintaxe, que é a maneira de organizar os conteúdos, e uma semântica, que são os investimentos de sentidos estruturados pela sintaxe. O plano do conteúdo, gerado neste percurso, manifesta-se por um plano de expressão: essa unidade de manifestação é o texto." (FIORIN, 2008).
            Ver a língua de um ponto de vista discursivo é, portanto, ir além dos horizontes dados pela gramática. Nos discursos produzidos pelo homem está toda a sua história, aquilo que foi dito e foi silenciado, as relações de interação, de intercâmbio e também as relações de oposição, polêmicas e antagonismos estabelecidos. Enfim, as relações de poder, de dominação, de alianças, de silenciamentos.


Referências

Fernandes, Claudemar Alves. Análise do Discurso:reflexões introdutórias. 2ª edição. São Carlos: editora Claraluz, 2008.

Lara, Glaucia Muniz Proença; Imediato, Wander. Análise do discurso hoje, volume 1. Rio de Janeiro: editora nova fronteira, 2008.

Stampa, Mariângela. Aquisição da leitura e da escrita: uma abordagem teórica e prática a partir da consciência fonológica. Rio de Janeiro: editora Wak, 2009.

http://br.monografias.com/trabalhos908/formacao-discursiva/formacao-discursiva.shtml (acessado em 24/10/2011)

http://www.poiesis.org.br/files/mlp/texto_1.pdf (acessado em 01/11/2011)

http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/renatomaterial/aquisicao.htm (acessado em 01/11/2011)

0 comentários:

Postar um comentário

Deixe aqui sua opinião.