segunda-feira, 6 de junho de 2011

Em defesa de um português brasileiro nas escolas

Alessandra Bizoni - Folha Dirigida - 24/05/2011


Escritor, tradutor, linguista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Marcos Bagno milita, há décadas, contra o "preconceito linguístico" no Brasil e foi o primeiro especialista a sair em defesa dos autores do livro "Por uma vida melhor", da Coleção Viver, Aprender — o livro didático de Língua Portuguesa mais debatido no país nos últimos tempos, cuja responsabilidade pedagógica é da organização não governamental Ação Educativa. Se para diversos segmentos da sociedade, a atitude de registrar em um livro didático a construção "nós pega o peixe" representa um massacre à Língua Portuguesa ou revela um posicionamento demagógico e falacioso com relação à educação destinada às classes populares, para Marcos Bagno tal orientação pedagógica simplesmente reconhece as variantes populares da Língua Portuguesa faladas no Brasil há mais de 200 anos.
Para o escritor, o alarde em torno da abordagem presente na obra, que conta com o aval do Ministério da Educação (MEC), demonstra o enorme "preconceito linguístico" de nossa sociedade. Autor premiado na área acadêmica e também na Literatura, o professor da UnB investiga há décadas os fenômenos da sociolinguística. Em 1999, com a publicação de   "Preconceito linguístico: o que é, como se faz" (Ed. Loyola), Marcos Bagno se transformou em referência nos cursos de Letras e de Pedagogia de todo o Brasil, que adotam a obra como marco teórico na formação dos futuros professores de Língua Portuguesa. No ano seguinte, publicou "Dramática da Língua Portuguesa", fruto de sua tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo (USP). Em sua pesquisa, apontou discrepâncias entre a língua realmente utilizada pelos brasileiros e a norma-padrão veiculada pelas gramáticas tradicionais, pelos livros didáticos e pela mídia.
Seu posicionamento de vanguarda se consolidou em 2009, com a publicação de "NÃO É ERRADO FALAR ASSIM! Em defesa do português brasileiro" (Parábola), obra em que defende abertamente o reconhecimento do "português brasileiro". E Marcos Bagno não está sozinho em sua luta pelo reconhecimento de formas alternativas do uso de língua portuguesa. No último dia 20, a Associação Brasileira de Linguística (Abralin) e a Associação de Linguística Aplicada do Brasil (Alab) publicaram nota em que condenam a cobertura de veículos de imprensa sobre livro da Coleção Viver, Aprender. Passadas algumas semanas da divulgação de trechos como "nós pega o peixe" ou "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado", a polêmica ainda está longe de terminar. A centenária Academia Brasileira de Letras (ABL), por exemplo, por meio de nota oficial, condenou tanto a obra quanto a postura do Ministério da Educação (MEC) ao distribuí-la para as redes públicas de todo o país.
Para enriquecer o debate em torno da questão, a FOLHA DIRIGIDA procurou o professor Marcos Bagno, que fez a pioneira defesa do livro "Por uma vida melhor" no artigo "Polêmica ou ignorância? Discussão sobre livro didático só revela ignorância da grande imprensa", artigo disponível na página eletrônica do educador (www.marcosbagno.com.br). Concedida por "e-mail" (ou seria mais adequado correio eletrônico?), o depoimento aqueceu ainda mais o debate sobre as diretrizes para o ensino de Língua Portuguesa no país.

Além de propor a legitimidade de um "português brasileiro", o escritor critica a ABL, recomenda o engavetamento da Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), documento regulador do ensino programático da Língua Portuguesa, e atribui o enfoque da cobertura em torno do caso a convicções políticas contrárias àquelas adotadas pelo Governo Federal. 

Confira a entrevista na íntegra:

http://www.blogdogaleno.com.br/texto_ler.php?id=10004&secao=22


 

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